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As Regras de Mulheres Machonas Armadas Até os Dentes

Capa da primeira edição de mulheres machonas armadas até os dentes

Todo RPG nos traz uma visão de mundo. Nos ensina lições. Então se você já conhece um pouco a respeito, jogou ou só leu os nossos textos sobre Mulheres Machonas Armadas Até os Dentes, já deve ter chegado à conclusão que se trata de um RPG machista. De fato, esse é um RPG que vai te encher de emoções controversas, vai te fazer rever seus conceitos, mas no fim você quero fazer você olhar para ele e pensar: ok, vamos jogar esse jogo machista.

Se você não sabe do que eu estou falando, dá uma conferida nos links que vou colocar abaixo, lá tem informações sobre quem escreveu essa obra. Quando escreveu… e também tem algumas fofoquinhas do autor… se você não viu ainda eu peço que ao terminar leitura dê uma conferida lá. Ou se quiser, clica logo no link aqui, afinal eu sou só uma página da internet e não um policial.

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Se você tá na mesma vibe que eu, deve ter entendido que estou fazendo você se questionar sobre se esse é um RPG muito errado. Ele é só mais uma obra sexista do século passado que envelheceu mal? Ou é a gente que ficou muito chato e não consegue mais entender conteúdo como esse? Isso eu só vou responder na terceira parte, mas para isso a gente precisa entender um pouco das regras e é isso que a gente vai ver agora. Para isso eu vou abordar os suplementos traduzidos para o português, um pouco das suas regras específicas, levantar alguns questionamentos morais a respeito da visão de mundo do jogo e ignorar os suplementos extras que existem só em inglês pois eles não têm utilidade exceto auxiliar na masturbação de jovens e adolescentes.

Um RPG dedicado a Mulheres Machonas

O alvo do jogo é mulheres, e mulheres muitas vezes vistas como fúteis ou subestimadas que vão enrolar ou mesmo “deitar na porrada” homens ditos alfas. Eu consigo ver uma porrada de filmes maneiros de protagonistas femininas que poderiam ser jogadas com essas regras como por exemplo o A espiã que sabia de menos ou As Bem Armadas. Eu sei, falei dois filmes com a Melissa McCarthy, mas acho ela muito engraçada. Mas o filme as Panteras, por exemplo poderia ser jogado com essas regras. Na real tem até uma série LGBT muito engraçada que era o Força-Queer QUE TEM NA NETFLIX! Antes que alguém pergunte, mas que daria para ser jogado com essas regras idiotas. Reforço, o bagulho é besta aqui gente.

Antes de falar das regras quero relembrar que cada um dos livros trouxe as regras básicas novamente. Então cada suplemento na verdade é por si só um material jogável. Tanto faz a ordem que você comprar ou ler você vai conseguir de qualquer maneira jogar. Mulheres Machonas Armadas até os Dentes parece mais um jogo de batalha de miniaturas, os skirmish games como a galerinha inglesa chama. Todos os livros básicos trazem mapas com hexágonos com uma aventura pronta e miniaturas de papel para poder recortar e usar. Aliás, cada livro é tão pequeno que se eu fizesse o vídeo só lendo as regras daria para veicular num TikTok tranquilamente.

Atributos bem básicos

Os atributos são bem direcionados para o tipo de jogo que quer mostrar: força, destreza e vitalidade. Força influencia na sua capacidade de carga e no dano corpo a corpo que aqui é chamado de mano a mano (sim, começam aí as piadas). Destreza para acertar com qualquer arma e vitalidade para o quanto de porrada você aguenta. Agora vem os melhores, ou piores, que são: visual e macheza.

Macheza é um equivalente do carisma usado para intimidar. Uma coisa legal desse RPG que não encontrei regras em muitos por aí é a possibilidade de usar ataques de macheza para intimidar inimigos. O mais próximo que encontrei disso é no Storyteller antigo onde dizia que o Lobisomem poderia usar força no lugar do carisma para intimidar oponentes, mas acho que ninguém usava isso. Aqui se você fizer um ataque proeminente ou estiver num killing spree, você pode acabar subjugando os próximos inimigos com sua macheza.

Por fim visual é o atributo da aparência física da personagem. O jogo não tem interesse em especificar quem poderia ser afetado por tentativas de sedução, mas ele diz que é muito útil para conseguir qualquer coisa de inimigos.  Por exemplo para obtenção de equipamento ele determina que mulheres machonas não compram equipamento, elas pegam! Então é facultativo ao jogador em qualquer base no meio do apocalipse usar macheza para conseguir seu material ou visual para seduzir soldados e conseguir seu material.

Como podem ter percebido não existe atributo de inteligência. O jogo não incentiva tais abordagens a fim de manter o clima de humor, mas há a perícia “Manjar de Aparelhagem Técnica” que permite ao personagem operar equipamentos de tecnologia complexa desde relógios digitais até supercomputadores.

As regras de Mulheres Machonas Armadas até os Dentes

O combate é bem simples, as perícias de combate têm nomes intuitivos como atirar com armas pequenas, atirar com armas grandes, atirar coisas para arremesso, acertar coisas para combate desarmado e acertar coisas com outras coisas para combates com armas brancas… entende agora por qual motivo a galera acreditou que o Greg Porter escreveu esse troço em menos de duas horas?

Só pra terminar, obviamente as perícias de condução vão ser dirigir coisas… voar em coisas… e a moral é essa mesmo. É zoar até mesmo com as regras! Por isso que saltitar é a perícia de esquiva em combate! Bem como tem a regra suporte ao visual que é correr de salto alto. Afinal, vou dar o “tiro, porrada e bomba” mas sem descer do meu salto. O que me confere um bônus de visual! Super importante, não?

E é isso mesmo galera, nem acho que vale muito a pena eu entrar nessas regras. O próprio Greg diz que as regras podem e devem ser distorcidas para aumentar o humor da jogatina. Por exemplo, quem lembra o inferno que era configurar um rádio relógio ou programar um videocassete vai entender a piada que é receber bônus de +3 para operar um supercomputador e -3 para operar uma torradeira.

Regras machistas

Antes de finalizar as regras, se é que alguém está levando ele a sério, o jogo também têm vantagens e desvantagens. E é aqui que vem as maiores críticas do jogo. Algumas olhando isolado são bobinhas, como por exemplo pele de teflon, que vai impedir qualquer nojeira de grudar na sua pele ou vai fazê-la sair com você passando a mão em cima, que nem nos filmes. E outras que, levando em contexto o cenário onde elas se encaixam, são extremamente pejorativas como por exemplo as desvantagens pantera e frescura do suplemento Panteras Infernais com Asas de Morcego.  Aqui a tradução para o português amenizou o significado.

Em inglês o nome do livro é Batwinged Bimbos From Hell. A palavra Bimbo é um termo pejorativo que diz respeito a uma mulher fútil. Então o suplemento apresenta isso mesmo, mulheres fúteis. Mas olhando em conjunto, são mulheres fúteis, enviadas por satã ao mundo para trazer libertinagem. Então o jogo meio que conserta isso ao trazer pantera e frescura como duas desvantagens. Ser uma Bimbo te obriga a fazer um teste de vitalidade ao receber dano ou você vai ficar reclamando de ter quebrado suas unhas e fazer o próximo ataque com desvantagem. MAS, se não quiser ser o estereótipo mulher fresca e fazer uma personagem gostosa porradeira, só não comprar sacou?

Os inimigos das Mulheres Machonas Armadas Até os Dentes

Um homem com um revólver de grosso calibre na mão. Usando uma camiseta da seleção brasileira. Imagem gerada por IA.
O pai de família conservador é um estereótipo comum de inimigo nesse cenário. (imagem gerada por IA).

Eu não vou falar dos inimigos, por que pra mim os inimigos são o ponto mais fraco do jogo. Lembrando que o cenário é pós apocalíptico e machista. Mas tem uns inimigos tão absurdo que parece que o Greg pediu para uma criança de cinco anos imaginar os poderzinho. Por exemplo, temos o nosso coelhinho assassino, fofinhos e bonitinhos com garras afiadas. Temos também Corvos de metralhadora! Acho que esse dispensa apresentação, mas na descrição diz que ele é pequeno e fuma um charuto (WTF cara??).

E os humanos não ficam muito atrás. Tem por exemplo os estudantes de república travados! Que são aquele estereótipo de universitário tarado e babão. O poderzinho deles é que eles tão sempre babando por fêmeas e a baba gruda, causando 1 de dano. Vale a pena comprar pele de teflon para enfrentar eles. E para o exemplo final, temos o Porco Chauvinista! Um gordão brutamontes que cospem tabaco… lembrem-se que isso foi escrito nos anos 80 e o referencial de criaturas são estereótipos de homens americanos.

Acho mesmo que o legal disso daqui é você adaptar pra realidade brasileira e fazer um sei lá, pai de família conservador, esquerdomacho ou um virjão fanático de igreja e bota ele para aterrorizar suas personagens. E sobre as personagens, o legal mesmo é fazer personagens como quiser. Quer fazer a freira gostosa com armas abençoadas pelo papa? Faça!! Quer fazer a “demônha” tímida comedora de homens? Faz! Ou quer só uma Michele Rodriguez, foda pra caralho no melhor papel da vida dela? Vai fundo garota!

Tem mais o que analisar?

Esse post já ficou um pouquinho grande, acho mesmo que tá na hora de a gente cortar ele no meio e fazer uma outra parte onde a gente vai finalmente refletir sobre o que discutimos até aqui. Por hoje era isso. Para de ser puritano. Sexualizar é diferente de hipersexualizar. Na parte três vamos abordar isso melhor de maneira que vai ser mais fácil de entender como essa relação ocorre e como o autor criou um universo onde homens podem jogar, ridicularizar a sua masculinidade e sem a necessidade de pagar terapia depois da sessão de jogo.

Antes de sair do vídeo, diz aí se gostaria que eu narrasse uma campanha desse sistema, até acho que vou fazer de qualquer jeito, mas comenta aí pois vai ser a diferença entre eu narrar isso esse ano ou ano que vem. Também comenta aí se tá curtindo esse esquema de dividir os vídeos (e os posts) nessas plataformas de redes sociais. E quero agradecer pela sua paciência em esperar uma semana entre cada parte do texto. Infelizmente a vida adulta me obriga a ser professor manhã e tarde para dar uma vida de luxo para minha gata. Também para sustentar gambás, pássaros e outros animais silvestres que invadem minha casa para roubar ração.

Então dá essa moral pra gente compartilhando esse material entre seus círculos de amigos. Quem sabe quando com o site e o canal crescendo eu passo mais tempo em casa e menos tempo aguentando grito de criança na minha cabeça? Melhor né? Se não pra você, melhor pra mim. Hahaha… era isso. Abraço povo. Eu e minha gata super útil nos despedimos aqui.

Foto tirada no momento em que estava gravando a segunda parte do vídeo. É eu, Fernando, vestindo camisa azul e segurando uma gata preta junto ao rosto.
Foto tirada durante a gravação da segunda parte do vídeo.

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